domingo, 28 de dezembro de 2008

Melodia


As notas deslizavam com uma delicadeza tão imersa na suavidade que podia ver passar entre os dedos, fazia soar com doçura uma nota a seguir à outra, e sem cansar o meu corpo tornára-se indiferente ao momento e deixaria de existir, agora o essencial eram os meus sentimentos, a razão posta de parte, insensível e orgulhosa, jamais a voltaria a procurar. As lágrimas deslizavam e um novo começo via dobrar-se no meu horizonte, a melodia soava sem pausas, era duma paz, uma harmonia tamanha, o meu corpo não existia, a minha mente envolvida na emoção e no desejo, o estado Nirvana que era tão esperado agarrava-me, e eu, eu ia, lá fora o vento raivoso batia na janela mas aquele piano espalhava aquela melodia delicada por cada canto da sala, a penumbra de cada canto ganhára formas e a música encantava-me, os meus olhos não eram os meus olhos eu era uma força viva, uma recordação, um sonho apagado, uma ferida que ardia.
E deixava -me embalar, ao observar essas mãos hirtas a tocarem com calma e determinação, o meu ser sabia que jamais descobrirão o segredo, aquela sala, aquele espaço, aquela melodia, a minha companhia, e as notas soavam... O segredo habitava todo o espaço que me envolvia, e eu era embalada, deixava-me afectar por cada nota, por cada mistério.