Encontro-me nesta velha sala, onde tudo parece
ter uma história contada em segredo de geração em geraçãocomo se de uma saga se
tratasse, ocupo um dos últimos lugares na sala, numa carteira isolada onde tenho
a sorte de vislumbrar e ter pensamentos completamente ausentes da matéria que o
professor trauteia insistentemente. Desta forma abstraiu-me das conversas dos
meus colegas e do zumbido do giz ou dos passos de alguém que caminha lá fora à
chuva e ao frio destes dias, frio esse que eu tanto prazer me dá, mas que me regela os
ossos.
Com toda a vontade e paixão o meu espírito
desenha letras e por fim palavras deslizam na folha branca de papel que
deveria conter a matéria da aula que para mim... não existe.
No meio do ambiente que observo entre risos
abafados e desabafos inocentes entre raparigas que cochicham ainda encontro colegas que adormecem ou simplesmente tímidos e petrificados desenham no caderno
com exaustão e "seca".
Com toda esta confusão que se instala na sala, a
voz do professor simplesmente desaparece e é vencida pelas conversas paralelas
entre alunos que para mim até me divertem bastante nos dias em que me sinto melancólica e
farta de tudo, sem esperança em nada e com vontade de fechar os olhos por longos
anos.
O tempo passa e cansa-me a jaula que é estar
dentro de quatro paredes, anseio pelo toque, e os alunos contam os segundos que
faltam e teimam não escassear, três, dois, um, toca! O alivio e a felicidade
aumenta, os alunos levantam-se apressadamente das cadeiras, eu vou-me afastando
da sala passando assim mais um dia, mais uma aula que para muitos é uma eterna
tortura.
