sábado, 25 de abril de 2009

Refúgio


No dia de hoje, em que a chuva é tão intensa, eu refugio-me no meu quarto a pensar no tempo que passou um ano e tal atrás, no quanto as coisas mudaram e no quão estranho tudo se transformou para mim. Uns continuaram outros desapareceram, mas por sua vez novos preencheram o vazio que os passados deixaram... Agora na janela não vejo a Estrela que na verdade é um planeta! Aliás não sinto o perfume que antes era o meu companheiro, com que adormecia e acordava, sempre com esse perfume presente, nada do antigamente me faz sentido, o peluche está sujo como o tempo ficou à medida que tudo se foi destruindo, agora o tempo frio até faz companhia às minhas saudades que tanto me custam a passar.
Tento de tudo mas não consigo o que anseio alcançar, vai aos poucos até chegar ao meu objectivo. Tantos caminhos que percorri que me baralharam e me fizeram perder tempo, tempo que podia ser gasto em utilidades, animais, amigos, trabalhos. Mas não, tinha de cair no erro para aprender. Bem, antes agora que mais tarde. E ainda bem que assim foi.
Aquela noite tão maravilhosa que dizia que fora a melhor da minha vida veio a ser no fim um pesadelo, com ele acordo às vezes com receio do que se puderá seguir, ou nego pedidos para me precaver do que uma vez me fizes-te, por vezes dou por mim a embarcar na história que me mudou a vida de vez. E eu dizia esta noite não me deixas, até que não deu mais, e agora os lamentos dispensáveis fazem-se ouvir nas paredes pálidas das casas, por cada paragem que passo e estradas que percorro, não esqueço o que se passou mas evito pensar, em cada sitio acompanhada que passo lá vem a má recordação à memória, até à porta da minha casa me consigo lembrar! És como um fantasma que teima em marcar presença na minha vida, se esse fantasma me levasse da memória a história para longe de mim eu agradecia... Mas esse fantasma recorda-me do que desejo esquecer, eu quero sossego, eu sei com o tempo tudo passa mas se calhar sou forte para umas coisas e esta possivelmente a força escapa ligeiramente. Eu sabia que estavas ao meu lado, que não me deixavas naquela noite fria, nem junto ao jardim , ou ao cemitério tão calmo, no descampado que resolvi acreditar, ser ingénua... voltar, acreditar num disparate que tão bem me arrependo e adorava não me arrepender, mas eu não mando assim tanto no meu caminho e dei um passo em falso, confiar para que? Pfffff... Acreditei nessas lágrimas de crocodilo e olha agora lágrimas deitei eu!
Não me deixes ir pensava eu, sonhos e mais sonhos, o ponteiro roubava o tempo que restava, tac-tac-tac, chegou ao fim queria que tudo parasse, desaparecesse e esquecer-me... Agora pedia que me deixasses ir mas é tarde, tenho de sentar-me ver o tempo a passar e com ele tudo levar. Não quero olhar mais para aquela Estrela, nem sentir esse perfume azedo que engana com a doçura exterior, igual a ti. As coisas boas ajudam-me a ultrapassar as más e quero-as para mim, não as esquecerei, as más me abriram os olhos e agora aprendi, o tempo vai-te levar o nome de mim, o perfume e o fantasma, a chuva vai-me trazer as boas lembranças e o vento afastar as negativas, até aparecer o Sol que me trará o que mereço, que sempre apareceu, umas vezes mais outras menos, daquela vez escapou, acontece a todos eu não sou excepcção.